sexta-feira, 3 de setembro de 2010

LA BAKER NA " MACUMBA"


Josephine Baker, a venus de ébano, esteve  no Brasil em novembro de 1928 trazida pelo empresário Nicolino Veggianni para uma temporada no então, teatro do cassino  que ficava próximo a praça Paris. Como demostração de simpatia foi realizada na  confeitaria Colombo, uma  já naqueles tempos, tradicional feijoada onde Araci Cortes entoou muito samba e La Baker  muita música francesa e o Charleston americano da qual era uma autoridade representante. 
Quando novamente a " Etolle Noir" retornou ao Brasil em 1939, para uma temporada no Cassino da Urca os anfitriões acharam por bem proporcionar-lhe o conhecimento do ritual de uma "macumba". Daí levaram-na ao terreiro de Mãe Adedé na estação de Ramos. Quem encarregou-se desta missão na oportunidade, foi o sambista Heitor dos Prazeres conhecedor do assunto.
Na caravana que se seguiu para o terreiro  em 30 de junho de 1939, estava entre outros o compositor Ary Barroso, Dircinha Baptista, o professor Carlos Cavalcanti e os sambistas Paulo da Portela e José Espinguela.
Uma multidão vultosa esperava Josephine saudando-a estrepitosamente no alvoroço que sua presença causava. Enquanto, lá dentro no terreiro, tambores e atabaques batidos com maestria sustentavam o ritmo dos pontos entoados na festiva acolhida a que Josephine merecia.

A convidada foi recebida por Mãe Adedé, caprichosamente vestida com um vistosa saia de ampla roda e ornada de muitos colares na  paramentação que exigia a noite.Josephine tomou  o lugar de honra o qual lhe foi oferecido  num tosco tamborete ao lado de Mão Adedé.
Quando a cantoria atingiu o clímax, uma das filhas-de-santo, um cavalo (médium) em transe, " recebeu o santo" que foi acolhido com gritaria e forte rufar dos tambores e atabaques. Uma saudação uníssona ecoou em todo terreiro  espantando Josephine Baker: "Saravá ! Saravá! Saravá!".

O santo que baixara veio até a visitantee depois de uma reverência diante de Mãe Adedé, saudou Josephine com uma espécie de bênção complementada com um franco abraço em que predominou o encontro das espáduas.
 Josephine Baker a venus de ébano, a "Etolle Noir" nunca deve ter se esquecido deste momento  singular oferecido a ela no Brasil.
Coisas do Brasil como  disse Guilherme Arantes  numa de suas cançãoes.
O GLOBO, 21/04/75

EFEGÊ, Jota, figuras e coisas da música popular brasileira vol ll, Edição Funarte, RJ 1980 pp191-192

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