quarta-feira, 9 de junho de 2010

Agnaldo Timotéo lança CDs

Agnaldo Timóteo lança dois CDs com regravações - "Sou mais eu"
Cantor defende que o tempo dos grandes cantores já passou. Sem medo de briga, diz que a política está sempre nos seus planos



Ailton Magioli - EM Cultura

O Brasil tem hoje dois cantores: “Roberto Carlos, que é uma celebridade da Rede Globo, e Agnaldo Timóteo”, declara o próprio, mineiro de Caratinga, na Zona da Mata. Segundo ele, além do Rei, ou são as duplas sertanejas “ou então sou eu mesmo”, já que a mídia teria “matado” todos os colegas de romantismo. “Carlos Alberto, Orlando Dias, Anísio Silva”, lista os companheiros de repertório que estariam sumidos, além de Moacyr Franco, Cauby Peixoto, Angela Maria, Agnaldo Rayol. “Eles não dão mais confiança para nós”, denuncia o cantor, dublê de político (atualmente, é vereador em São Paulo), que acaba de lançar pela Som Livre o álbum Obrigado São Paulo – Obrigado Brasil, paralelamente à coletânea de sucessos Sempre.

“Já estou com 73 para 74 anos, não sei quando é que Jesus Cristo vai assinar o meu passaporte. Enfim, os dois discos têm material extraordinário”, propagandeia Agnaldo Timóteo, que, mais uma vez, volta a cantar os sucessos de sempre. “Imagina, são 46 anos pra lá e pra cá – preto, feio e do cabelo duro – e sempre aplaudido, sempre bem recebido”, comemora. Segundo diz, ele só conseguiu se manter no mercado fonográfico brasileiro por todo esse tempo porque não foge da luta. “Se não fosse brigão, já tinha ido para o saco”, justifica. E lembra o ocorrido com o amigo Wilson Simonal, que foi boicotado pelo mercado antes da morte prematura. “Simonal nunca teve coragem de contar o que ocorreu com ele. Mas ameaçaram sequestrar Simoninha, o filho dele”, denuncia, sem mais detalhes.

Do preconceito racial, Agnaldo Timóteo diz jamais ter sido vítima. “Mas do preconceito social eu continuo sofrendo até hoje. Não me perdoam por ser negro e audacioso, porque mesmo tendo estudado apenas até o 3º ano primário sou inteligente. A exemplo do presidente Lula, aprendi, ouvi e continuo ouvindo. Assisto a tudo na televisão para me atualizar. Eles não me perdoam porque tenho opinião própria. Não me deixo orientar pelo Willian Bonner ou pelo Carlos Nascimento. Sou Agnaldo Timóteo”, discursa o cantor.

Para o artista, o mercado musical brasileiro passa por grandes transformações há pelo menos duas décadas. “A primeira mudança foi com a chegada da música sertaneja. Agora mudou para o lixo: é o funk, é o rap, é a axé music”, opina. “Domingo desses, estava vendo um programa de televisão e tinha nele duas mulheres lindíssimas. Qual era o talento delas? A bunda grande. Tenha piedade!”, protesta Agnaldo Timóteo. “A gente nunca se preocupa com vendagem de discos. Gostamos mesmo é de gravar e ter a oportunidade de ir à televisão para cantar e fazer shows pelo Brasil. E estamos fora da mídia. O meu CD Obrigado São Paulo – Obrigado Brasil, por exemplo, só fiz o programa do Silvio Santos. Não fiz Faustão, não fiz Gugu. Não fiz nada porque eles acham que vou ser candidato a deputado federal – e é possível que seja – e não me deixam cantar”.

À frente do quinto mandato político (deputado federal por dois mandatos, vereador no Rio de Janeiro por um mandato e vereador reeleito em São Paulo), foi graças a uma briga com fiscais da Prefeitura de São Paulo, na Praça da República, onde o cantor vendia seus discos, que ele acabou eleito o vereador mais votado pelo Partido Popular (PP), transferindo-se posteriormente para o Partido da República (PR). “Não falo de política quando piso no palco”, garante o cantor. “Se meu público votasse em mim, teria milhões de votos, sempre”, supõe Agnaldo Timóteo.

CANTORES SEM VOZ

Sem contrato com gravadora – “hoje praticamente ninguém tem mais”, protesta – Agnaldo diz que para ser cantor, atualmente, não necessita ter voz. E aponta que Latino, por exemplo, não cantaria em nenhum programa de calouros em sua época. “E, no entanto, é um grande sucesso. É um ídolo, que as crianças adoram porque sabe escolher repertório. Ele é um homem elegante, mas se for cantar em programa de calouro é gongado na entrada. Não canta nada”, garante.

Consciente da extinção do cantor de vozeirão grave, Agnaldo Timóteo diz ser o último romântico. “Mas espero durar mais uns anos. Tomara que possa chegar até os 80”, afirma. “Fico em casa, não uso drogas, não fumo, não cheiro, não bebo. Sou um amante da minha casa”, afirma. Anda chateado com o estado em que nasceu: “Não me chamam para nada, como se não fosse um grande cantor. Sou o melhor cantor romântico do Brasil, não há dúvidas!”, exalta-se.

A ausência de repertório romântico novo é solucionada por ele com as regravações. “A gente vai regravando”, afirma. E responsabiliza as próprias gravadoras pela opção. “Ninguém produz mais nada na área. Djavan já não tem a mesma saúde; Milton Nascimento teve a voz levada para as cucuias; Chico Buarque continua sem produzir nada; João Gilberto há 50 anos não faz nada de novo. Temos Jair Amorim, que foi embora, e Evaldo Gouvêa, que está por aí. A verdade é que estamos órfãos de românticos. Hoje em dia, quem compõe faz música sertaneja”.

DE AMOR E RELIGIÃO

Agnaldo Timóteo em sertanejo (2006) havia sido o último lançamento do cantor, antes dos dois atuais. Antes havia gravado Em nome do amor – Agnaldo Timóteo canta Roberto Carlos, Preferência nacional e Agnaldo Timóteo en español. “Acabei de gravar também Agnaldo Timóteo – A volta do boêmio, no qual canto 14 sucessos do Nelson Gonçalves”, revela orgulhoso. “Este é para matar”, diz. Até o meio do ano ele vai gravar o disco religioso, Agnaldo Timóteo – Minha oração, em repertório que vai mesclar canções católicas e evangélicas.

EGOÍSTA E AVENTUREIRO

Entre as composições que mais orgulham o cantor está Galeria do amor, em que ele fala da homossexualidade: “Numa noite de insônia saí/ Procurando emoções diferentes/ E depois de algum tempo parei/ Curioso por certo ambiente/ Onde muitos tentavam encontrar/ O amor numa troca de olhar./ Na galeria do amor é assim/ Muita gente à procura de gente”, canta, ao telefone. “Fiz em plena ditadura militar e eles nunca se meteram comigo por causa disso”, garante. O artista lembra que a letra é uma homenagem à célebre Galeria Alaska, em Copacabana, no Rio, onde funcionava a não menos famosa boate gay Sótão. Pai de três filhos adotivos, ele diz não ter-se casado por não ter encontrado ninguém que pudesse suportá-lo como ele é: “Intransigente, às vezes egoísta, às vezes grosseiro, sempre exigente. Gosto de pessoas inteligentes. E, além do mais, sou amante de aventuras”, confessa.

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