domingo, 13 de fevereiro de 2011

Gravadora Joia Moderna e nossas Cantoras

Gravadora Joia Moderna dá voz a cantoras marginalizadas pela indústria







Não é fácil ser cantora no país das cantoras. Intérpretes sem uma obra autoral que lhes dê identidade - e lhes garanta alguma autonomia artística na indústria fonográfica - geralmente ficam à mercê dos critérios às vezes questionáveis de diretores artísticos de gravadoras. Além da voz, é preciso ter personalidade forte, como as de Maria Bethânia e Nana Caymmi, por exemplo, para driblar direcionamentos dúbios e impor a verdade de seu canto. A explosão do pop rock nacional em 1982 implodiu o conceito de MPB - criado nos festivais dos anos 60 e solidificado ao longo da década de 70 - e piorou ainda mais a situação. Foi quando diversas cantoras, como Joanna e Fafá de Belém, por exemplo, partiram para o brega para garantir vendas e visibilidade nas paradas. Nos anos 2000, a própria implosão da indústria do disco - vitimada pela pirataria física e virtual - afunilou o mercado mainstream e empurrou a dita MPB para o circuito indie. É nesse contexto que a gravadora Joia Moderna - aberta pelo DJ Zé Pedro - entra efetivamente no mercado em fevereiro de 2011 para dar voz, sobretudo, a cantoras marginalizadas por um mercado que deu tiro em seu próprio pé ao adotar visão imediatista. Não é por acaso que, no lote inicial de lançamentos da Joia Moderna, há bem-vindos álbuns de Zezé Motta e Cida Moreira. Zezé despontou como atriz e cantora nos anos 70, chegando a gravar discos arrojados. Contudo, por ser negra, logo foi enquadrada pela Warner Music no nicho das sambistas - nicho redutor, no caso específico de Zezé. Dedicado aos repertórios de Jards Macalé e Luiz Melodia, o álbum Negra Melodia pode vir a reposicioná-la no mundo da música. Já Cida Moreira nunca esteve propriamente no mainstream, tendo feito discos pelas extintas gravadoras Kuarup (pioneira no mercado indie brasileiro, espécie de Biscoito Fino de sua época) e Continental. Contudo, por sua coerência e personalidade, Cida deveria ter tido uma carreira fonográfica mais regular, desenvolvida sob os holofotes da mídia, e não construída à margem do mercado. Que a Joia Moderna dê brilho e oportunidades a essas vozes e lapide outros diamantes verdadeiros, alguns encobertos pela poeira do tempo e da acomodação. Antes de ser DJ, Zé Pedro sempre foi fã apaixonado de cantoras. Como tal, sabe identificar vícios e virtudes dessas joias que, uma vez lapidadas, podem voltar a brilhar e fazer discos a que o tempo se encarregará de dar o real valor se a crítica não o fizer de imediato.


por Mauro Ferreira

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