quinta-feira, 1 de abril de 2010

Gal Costa quer revisitar repertório e prepara show "para matar a saudade"

MARCUS PRETO
da Folha de S.Paulo, em Salvador (BA)

Desde o final dos anos 1990, o fã-clube de Gal Costa se dividiu.

Há os que a amam de maneira incondicional: para esse time, a pureza da voz está acima de qualquer questionamento, não importa o que ela grave ou como se comporte no palco.

E há os que se ressentem pelas mudanças que o tempo trouxe à cantora. Esses reclamam do fim daquele ímpeto explosivo que a moveu em outros tempos, sobretudo nos anos 1970. E esperam que ela siga descobrindo canções inéditas e revelando compositores, como fazia no passado.

"As pessoas costumam me cobrar atitude, postura, irreverência", diz. "Essas coisas aconteceram quando tinham que acontecer, especialmente no tropicalismo e na década de 70. Era um contexto mundial e eu estava inserida nele."

Gal expõe a questão sem se exaltar, como quem já se habituou a lidar com ela. "Que barreira eu vou romper agora? O que ainda posso fazer de irreverente? Gritar?", questiona.

E responde: "Não. Gritei quando isso era uma expressão válida, quando representava arma contra o regime e contra tudo o que estava acontecendo a mim e aos meus amigos exilados. Agora, o grito não faz mais nenhum sentido".

Márcio Lima/Folha Imagem



A cantora Gal Costa, que pretende revisitar seu repertório no show que está preparando para a "volta" ao Brasil


Gal divide bem as duas principais facetas que a colocaram entre as maiores artistas da história da nossa música. Diz que "se adequou" ao tropicalismo "muito mais com o coração e a alma do que com a cabeça".

Mais do que uma artista experimental, ela diz, sua vocação é para o canto, em sua essência mais pura. "Não me cobre atitude, cobre música."

Com o passar do tempo, e especialmente nessa última década, os shows de Gal pelo país tenham ficado cada vez mais raros. Atualmente, sua carreira está mais baseada em turnês internacionais, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa.

Ainda assim, ela não considera o afastamento anormal. Conta que passou por períodos de reclusão no passado. "Estava conversando disso com [Gilberto] Gil: hoje, principalmente por causa da internet, tudo é tão rápido que, se você não estiver presente todo o tempo, parece que você acabou", diz.

Mas Gal quer reverter essa impressão de ausência ainda neste ano. Está providenciando um apartamento em São Paulo, já que "quando se quer meter a cara no trabalho, tem que ser nas grandes capitais". E prepara show novo, "para matar a saudade das pessoas aqui no Brasil", em que vai revisitar o próprio repertório.

"Sou uma mulher que já passou dos 60 anos e meu grande trunfo é minha voz", diz. "Ela continua inteira, cristalina, jovem. Acompanha minha alma, meu coração e meu espírito. Canto com o mesmo tesão. Quando eu estrear, você vai dizer se assina embaixo do que estou dizendo."



Gal Costa é elogiada pelo "New York Times"
da Folha Online



O "New York Times" elogiou em sua edição desta quinta-feira a apresentação que a cantora Gal Costa fez na casa de shows Blue Note na noite da última terça (30).

Marcelo Justo/Folha Imagem




Gal Costa faz shows em Nova York e recebe elogios


Segundo o crítico Ben Ratliff, a voz da cantora está mais "sombria e suave". A entonação da cantora "brilha dramaticamente e, de repente, a linguagem se torna puro som", escreveu ele.

O texto cita a versão que a cantora faz de "Lindeza", de Caetano Veloso. "É uma canção de amor sem objeto específico --talvez apenas a idéia da beleza-- e ela acerta já no primeiro verso quando repete 'coisa linda'."

Acompanhada somente do violonista Romero Lubambo, Gal se apresenta em Nova York até domingo. Segundo o crítico, é um show bem diferente do que ela mostrou em recentes apresentações na cidade.

O repertório tem ainda músicas de Chico Buarque, Antonio Carlos Jobim e Ary Barroso. Em uma das poucas ressalvas que fez ao show, o crítico chamou de "desnecessária" a parte de "Garota de Ipanema" que Gal canta em inglês.



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